.

Não imorta aonde eu vá eu sempre vou te levar comigo, vou levar seus sorrisos, seu olhar, sua voz, seu jeito de andar, sua roupa, seu cabelo. Vou levar na minha mente tudo o que me lembrar você, quero poder estar em qualquer lugar e as lembranças passarem na minha mente. Mesmo que isso possa me fazer sofrer é o que eu quero, porque mesmo longe vai ser como se você estivesse comigo e isso é muito bom.
Stupid Girl

What Time Is It?

quarta-feira, 22 de junho de 2011




“Não vai a lugar nenhum, eu estou preso em um escuro sem grades. É um infinito muito escuro e desgastante. E foi o amor quem me presenteou.”

É dessa prisão feita de amor desgastado, maléfico e inebriante que brota o silêncio. O vazio, o escuro de noite sem lua, de verso sem letra, música sem ritmo, paixão sem corpo. Tudo muito perdido a dois passos, entregue a um destino sonhador em que a esperança dá seus últimos pedidos em vida. Um testamento triste, triste, detalhes de uma vida corrida, de um tempo tempestuoso onde nada consegue ser livre, onde a voz se prende à garganta, onde os pássaros caem antes de alçar vôo. Amor falecido, amor maltratado, amor renascido - dá no mesmo. Tem a ver com calos e trabalho pesado para se manter sobrevivente, à base de água e sal, desilusão, desencontros, descaminhos e um resto de paz trazida pelo imenso vazio. Foi disso que brotou o meu silêncio. Eu fiquei pendurado num relógio e o ponteiro não tem forças para subir. Sem ajuda, sem força, eu tento voltar, e sentir, expor, escrever e viver, voar cada pedaço das linhas antigas. Mas acabou. A vela queimou. O dia caiu. A porta fechou. Como é que se faz pra ser o que eu fui? E se o que eu fui nunca gostou de mim? Como é que dá pra buscar novos mundos se estou entre correntes, encubado, escondido, meio quieto, meio fumaça, meio baque, meio morto? O raio não vem. O galo não canta. O vento não empurra as cortinas. Quem há de dizer que os motivos existem? Quem há de dizer que não fui corajoso a ponto de suportar o desapego, a enfermidade e o escudo pesado e partido? Se eu me perdi no tempo, acho que tudo que eu plantei, secou. E a vida me deixou. Assim como tudo que escrevi e senti.
— Suspira, pois ela volta aos poucos. Mesmo que engatinhando e tropeçando.
— Entendo.
Eu cheguei a pensar que, da mesma forma como desencontrei, eu encontraria o que eu havia perdido. Numa calçada ou nos olhos de alguém, no sorriso da criança ou na cheiro da chuva, mas nada voltou. Nem mesmo a voz doce que incendiava minha alma. Sonhar virou sonho. Soa estranho, eu sei. Mas é a cara que imagino quando penso na realidade. Fogem os encantos e as magias. Perdem-se as bebidas deliciosas, os personagens confidentes e as estradas surpreendentes. O rosto do concreto. Eu só queria ser volátil, escapar de tudo aquilo que me impede de inflar, descobrir outros vapores, fugir da minha casa, abrir a gaveta, destampar as panelas. Sentir o cheiro de coisa velha e perceber que o novo ainda me espera pra poder chegar. Eu deixei recados nos espelhos e correspondências fechadas, deixei motivos pra voltar. E caminhando, torto e desguiado, no ritmo do sem-querer-eu-tenho-medo, eu sinto que a vida é assim: cheia das incertezas e dos silêncios no escuro. Muito minha, muito nossa e muito própria.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comenta ai.. .